Estudante apresenta primeiro TCC sobre robótica da Ufal

Wylken Machado criou um robô que procura luz para recarregar suas baterias


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Professor André Aquino, especialista em sensores, orientou o trabalho | nothing
Professor André Aquino, especialista em sensores, orientou o trabalho

Pedro Barros - estudante de Jornalismo 

Muita gente busca "uma luz" quando tem de escolher um tema para seu Trabalho de Conclusão de Curso, o TCC. Para o então aluno de Ciência da Computação, Wylken dos Santos Machado, agora formado pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), buscar a luz acabou sendo o próprio TCC. 

Investindo cerca de cinco meses de trabalho e estudo mais aproximadamente R$ 200 com as peças necessárias, o estudante criou um robô que procura fontes luminosas para recarregar sua bateria. Em cima desse projeto, escreveu o primeiro TCC sobre robótica do Instituo de Computação (IC) da Ufal, apresentado no dia 25 de março.

O orientador foi o professor André Aquino, coordenador do SensorNet-Ufal, um grupo integrado ao Laboratório de Computação Científica e Análise Numérica (Laccan) que realiza pesquisas sobre redes de sensores sem fio. A iniciativa de criar o robô foi do próprio aluno, que contou com apoio do irmão, Cleberson, técnico em Eletrônica pelo Instituto Federal de Alagoas (Ifal) e atualmente estudante de Mecatrônica na Unit. 

Do projeto ao funcionamento 

Segundo Wylken, além dos conhecimentos básicos sobre programação e eletrônica digital, que adquiriu nas disciplinas da graduação, ele teve que estudar eletrônica analógica e aprender a programação específica da placa Arduino, uma espécie de cérebro do robô, que processa as informações que o controlam. 

Além desse elemento central e sua base mecânica - o carrinho -, a máquina é composta por peças como painéis solares, bateria, um sensor de obstáculos e os cinco sensores que procuram por luz, nos quatro lados do autômato mais um acima. “O robô mede quais dos sensores está recebendo mais luz, se vira para aquele lado e vai até ela, desviando as barreiras que houverem”, explicou. 

Chegando o prazo final para apresentação, até prendedor de roupas e tampa de escova de dentes serviu para o acabamento. O prendedor, por exemplo, serviu para montar uma espécie de para-choque. "Percebi que toda vez que a roda batia em alguma coisa, ele travava. Eu tinha que providenciar uma proteção, mas não deu tempo conseguir uma peça mais elaborada", falou Wylken, em meio a risadas. 

Luz... 

Robôs que funcionam a base de luz solar já são realidade há vários anos, alguns são até famosos. Sojourner, Spirit e Curiosity, por exemplo, são os nomes de três autômatos projetados para se descolar sobre o solo do planeta Marte. Na ausência de pessoas, tomadas ou baterias infinitas, esse tipo de máquina se recarrega durante o dia, através de seus painéis solares. A diferença para o robô alagoano é que a luz chega até eles, enquanto o de Wylken vai até a luz. 

Segundo André Aquino, o projeto teve apenas finalidade de experimento e não é algo inovador. O princípio, no entanto, é o mesmo que pode permitir que robôs exploradores possam substituir seres humanos em ambientes hostis e de difícil acesso. “Por exemplo, se o robozinho estiver prestes a descarregar numa parte de uma floresta com muita cobertura vegetal, ele vai procurar sozinho um local onde tenha mais intensidade luminosa”, explicou. 

...Lego... 

Conforme o professor, as experiências com robótica na Ufal começaram por volta de 2012, com a professora Eliana Silva Almeida. “Era um projeto de extensão que treinava alunos de escolas públicas do estado para a Olimpíada Brasileira de Robótica. Colaborávamos eu e o professor Leonardo Viana, atualmente o coordenador do projeto”, explicou. 

O grupo adquiriu o robô EV3, montável com peças de Lego. “Quando começamos a trabalhar com a ideia de prédios inteligentes, pensamos em aproveitar essas experiências para fazermos robôs Cicerone, que são utilizados para guiar visitantes em um prédio. Por exemplo, a pessoa diz ‘quero ir à sala do professor André’ e o robozinho lhe orienta até lá”, explanou.

Paralelamente, o curso de Engenharia de Computação está iniciando as primeiras aulas de robótica. “O curso adquiriu alguns robôs e vamos começar a trabalhar com eles tanto para atividades de ensino na graduação como em projetos do grupo SensorNet-UFAL, aqui do Laccan”, disse o professor. Uma parceria com pesquisadores da Austrália também está redendo frutos para essa área em nascimento na Ufal. “Nosso aluno Ricardo Fragoso realizou um intercâmbio lá e o professor Leonardo irá fazer uma capacitação. De todos essas atividades, agora estão aparecendo os primeiros resultados”, declarou. 

...e legados 

Citando exemplos como o robô-vassoura (uma espécie de aspirador de pó automático), um autômato que limpa janelas de prédios e ainda os drones, uma das novas tecnologias mais populares, os dois cientistas acreditam que a presença dos robôs vai crescer no cotidiano das pessoas. “Só não acho que vai chegar a ponto de existirem humanoides como aqueles do filme Eu robô”, complementou André. Segundo ele, existem vários tipos de robôs, com várias funções e vários tipos de controle ou autonomia, e não precisam ser parecidos necessariamente com seres humanos. 

O projeto de Wylken iluminou o caminho para novos experimentos nos laboratórios da Ufal. A nova ideia do coordenador do SensorNET é criar uma espécie de officeboy tecnológico, para coletar informação de sensores dispersos. Eles mediriam variáveis como temperatura em diversas salas de um prédio, por exemplo, mas poderiam não conseguir transmitir esses dados. “Então, um robô se aproxima de cada um desses sensores, coleta suas informações e entrega esses dados na base. Para isso, ele tem de saber qual o mapa do prédio, perceber o ambiente para saber onde os sensores estão e saber desviar de obstáculos até chegar ao local. O que o Wylken fez pode servir como a base desse robô”, explicou André. 

Depois de tantas luzes para tantas ideias, só faltou luz para uma coisa: o nome do robô. "Eu não tive nenhuma ideia para batizá-lo", contou o aluno. Também nem deu tempo. Wylken já desmontou seu projeto de TCC para montar outro brinquedinho. “No fim de semana passado, comecei um novo projeto: a criação de um quadricóptero com Arduino, daí precisei das peças do robô...”. 

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